segunda-feira, novembro 18, 2013

calhaus

olho a curva e fixo-me no horizonte para além das canas e vacas. olho para uma canada de terra batida e ,em poucos metros, adiante uma abundante mata. árvores. silvas e pedregulhos musgosos.
descida aos ombros de alguém familiar e próximo, reconfortante mas também caseiro. 
sentimos o mar e os calhaus rolantes, já perto, num daqueles dias mágicos que se prolongam no tempo e no espaço.
maresia. família. 

tudo solto

Vagueando pelo monte acima sem destino
Partido, desfolhado e a gotejar 
Vai, vai, vai não te percas nas nuvens
A altitude tolda-te a visão e o coração

Começas a nascer 
Iluminando tudo o que tocas e não tocas
Nas sombras aquíferas e húmidas tu vês
Um raio doloroso e paciente de onde é impossível fugir

Trauteaste algo merecedor de uma dança
Que nos fez juntar e aguardar um descerrar
Daquela cortina de gotas e de flores portentosas
Luminoso é aquele que nos aquece os pés

terça-feira, julho 31, 2012

Fuligem de pó

na viragem do século alguém compôs o alinhamento estelar. a estrada funicular de alcatrão, o calor que brota do chão iluminado pelo Sol em letras maiúsculas. uma constante matemática rodeada de percepções orbitais. que carregam consigo o vazio intermitente do zénite.
e o brilho da sombra refazendo novos contornos e linhas durante o vagar dos dias.


segunda-feira, maio 28, 2012

por um minuto apenas

o cálculo de humidade simples e uma ida ao quadro negro. a tinta escorre pela perna depois da queda de bicicleta. um qualquer assomo de justiça e de interesses focam a humanidade do sujeito em causa. a tratadora está a caminho de casa após um dia de viagem. nas nuvens e não só. o safari está terminado.
deixando de parte a quebra de página, voltando para a caneta azul o lápis e a escrivaninha propuseram um preenchimento.
foi assim que se iniciou a madrugada daquela era. triste e vagarosa. quente e húmida.

[nem uma rajada de vento]

quarta-feira, maio 23, 2012

portento fisionómico

num assomo de sensibilidade foi possível tornar-me vegetal.
na bagunça do quintal, rodeado de um castanheiro e de flores frondosas, estive, por momentos, no céu de um ermo qualquer. bugigangas marcantes, sentidos sonoros petrificantes. as mãos essas estão calcinadas. do sol e e pelo sal. os pés marcados pelas passadas longas de uma vida rudimentar. de sentimentos. encarcerados numa carapaça acre e húmida. sem direito a passagens misteriosas.
ocultos e encobertos pelo escuro da noite, num luar que teima em não chegar. parcimónias e paternalismos que nunca viveram juntos. a menina impossibilita-se a si mesma. e carrega consigo um fardo terminal.

Batalhas criminosas

teclas de piano e uma pauta exausta. ao canto, um pedestal acompanhado de um quadro rançoso. um conjunto de malas junto da porta e o molho de chaves certeiro, querendo sair.
numa tristeza, um assombro arrebata a alma perdida nos fundilhos da escadaria. uma cena dramática prestes a desenrolar e ele, impotente. entristecido. rude e com o espírito cadenciado por uma dor pouco serena. o tumulto é tal que, olhando pelo quadrado da janela, não se contém. as pernas falham, o luto tritura tudo e o medo, embrutecido, vende-se.
o galo é visto na praia pela última vez, numa sexta-feira de aguaceiros.

Bifurcação estrondosa

Enchi o copo com um pedaço de saudade e entreguei ao marceneiro da rua direita. Troquei os passos daquela virtuosa esquina, revirei a calçada, poli os óculos. A junta não poderia estar melhor unida do que aquela. Pedaços cortantes de melancolia, entrelaçados com fiadas de murmúrios e bafejados com água. Nunca permiti a entrada de rompante daquela flor. Enganadora e traiçoeira, não há hipótese.
Bocejos longos e trovoadas sonoras trocam a carga eléctrica dos pólos mentais. Nunca a visão de um pôr do sol me pareceu tão bela.

sábado, maio 19, 2012

parcerias triviais de um estranho ser

não se explica aquela perda. abro a porta e o verde claro das paredes encolhe. impossível digo. prossigo e no frio daquele vazio encontro apenas nada. brutalidades póstumas que me toldam o pensamento, enevoam a memória, recalcam sentimentos, enganam o ódio, acalmam a raiva e perturbam o dissonante argumento.
nos confins do Inverno primaveril encontra-se um ser que não nos compreende. um fenómeno que chegou até nós numa trovoada.
estática e imutável. traduzido à letra pelo mais poderoso dos sinais. um mistério que se adensa sempre que a música termina. humanamente impossível mas credível para os cinco sentidos.

hino ao início

a história reza assim. começou naquele tempo, onde tudo era supostamente belo. apenas.
esse momento único que consegue desfazer a felicidade e torná-la indecifrável.
dela apenas retemos o que não ficou. uivos de dor recheados com pura maldade. implicando e constatando. uma figura apenas, aquele funeral repleto de dor. e alívio. no céu um milhafre acerca-se, dono de si, do muro que rodeia o jardim. num conjunto de árvores revemos novamente a tatuagem deixada anos antes. preenchida pela seiva. encarcerada pelo alcatrão. o titubear da perna direita. o isqueiro que acende o cigarro disforme, acabado de sair do bolso traseiro.
a banda sonora que inspira. a respirar. a lutar. a pedir por mais. funde-se o pedido de ajuda com o travestido momento de glória. delitos prisionais pedem um capacete.
delírios justos e reincidentes são opostos de si mesmo.

truques primários

conjunto de letras entrelaçadas por um ranger de portão. ladrar apenas resulta ao final do dia. permutas que nos consolam a mente e um pedido de agradecimento. ecuménico é o resultado intervalado daquela incerteza humana. são apenas duas as que se intrometem no fulgor do bater das ondas. a praia está completa de diversos mundos. o pedestal serviu apenas para termos acesso ao triturar das palavras.
caminham sozinhas. acompanham-as, a espaços, um sopro. marítimo e matinal como sempre. essa marca de ilhéu, entrecortada pelo ritual da voz e do sino.
o aguaceiro forte e a válvula de pressão. criações e abstraccionismo de mãos dadas. tentativas vãs em perceber o poder das palavras soltas.

limites urbanos

com dois cancioneiros. humor acumulado. o ar deixa a sua marca, impregnado de melancolias apressadas e não desejadas. pouco sentidas mas muito vividas. a justiça costuma chegar na vertical e na companhia do intérprete desconhecido (de muitos). aos poucos a vela, acendida com uma mão enrugada, vai dando de si. a companhia, essa, está deitada. cansada. entristecida e com um esgar de agonias cardíacas. pouco ou nenhum sentido.
a presença confortável é cortada pelo chegar da aurora. na foz do querer apenas um sentimento, o da descrença total.

inutilidades formosas

da calmaria surgiu um tudo. fitas cortadas, vitórias alcançadas, cartas perdidas num daqueles recantos pouco ou nada visitados. olhares e falas sem norte, frenéticas e guturais. o nevoeiro intenso tolda sempre o navegador  e o seu diário mental. percorro o fio do novelo. interminável. com espaços em branco, impossíveis de serem preenchidos.
uma possibilidade enganadora, intriguista e desejosa de água. caminho levemente, como um caracol, guiado somente pelo dedilhar de uma guitarra electrónica e o teclado incessante do piano. um pássaro e a chave. manter-me à superfície no livro à beira de cair da mesa.

sem forma

rarefeito. de uma dúvida que assombra qualquer um. defeituoso carácter, disforme e rochoso. a triste lembrança patenteada. perene e imutável. ao alcance de uma cicatriz. num corredor encarcerado e o tumulto a chegar. uma camisa rasgada, ferida de morte. um pecado capital. neste chão carregado de incertezas, o sangue quente brota e pende em direcção ao invisível.
histórias de amor que nunca o foram.

segunda-feira, março 12, 2012

Fardos ocultos

uma terra que nos prende. uma sensação de empatia que nos faz ficar. o tilintar das chaves alertam-me para um silêncio aterrador. ao fundo, uma terapia primaveril. mais perto, numa sensação mais aconchegante, disse-me ao ouvido: "não venhas mais".
passadeira. o semáforo recorrente e no vermelho novamente. tudo me prende. helenística, uma palavra cara e aparentemente simbólica. já me verguei ao poder do céu. perspectiva não religiosa nem condicionante.
soltas. as palavras. por vezes ocultas.

Cidade perdida no tempo

A nuvem evaporou-se
Com duas carícias.
Foi assim que o Sol apareceu
Enganado pela
iluminária do tecto, entretanto abalada.
O odor a mar
Impregnado de saudade
Temperado com enxofre.

Foi ele que me aconselhou
A escrever às nuvens
Passageiras e incontornáveis
Com ares de espuma e sabor a água.

adenda: visões de um éden abandonado percorrem os meus sonhos. a queda das flores, o voo e um céu que contempla a paisagem.






quinta-feira, outubro 20, 2011

macieiras

divisões fotográficas corrompem-me em todos os instantes. numa golada de ar, sopro e consigo, finalmente, encher o balão. quando cheio é alvo de todas as atenções e sorrisos. no pátio solarengo ouvem-se as vozes familiares, o convívio estival que convida à moleza. incomodado sigo em frente e abro, novamente, a porta para ser arrebatado. três aves sobrevoam a macieira fecunda. o antigo trilho está coberto de musgo.
conta-me aquela história por favor.

delícias outonais

um chão de carpete castanho claro. novo rasgo de memória que me aclara o pensamento. duas maneiras de olhar o mundo e o que nos rodeia. ali perto, num vaso escondido, no canto, uma rosa vermelha a definhar. o sol bate na janela entreaberta iluminando o pó que dificilmente assenta. três pancadas distintas na porta e o mugir de uma vaca só, no pasto circundante, fazem-me levantar vagarosamente. pressinto uma nova aurora.