sábado, janeiro 31, 2009

consultórios

uma rua em obras. à esquerda, uma porta bege aberta. paredes de cimento esburacadas e alguma lama. entro e subo as escadas de madeira envernizada. uma sala de espera. fixo-me num quadro do planeta terra. elípticas. variados quadros e diplomas e ao centro uma grande mesa redonda ladeada por cadeiras. sinto que viajei no tempo e isso é desconfortante. dobro a folha de papel e parto.

quinta-feira, janeiro 29, 2009

pela noite dentro

cedo ao escuro. o ranger do chão de madeira, o bafio e aquele espanta-espíritos não me deixam adormecer. do outro lado do quarto uma sombra deitada na cama. lá fora sinto o miar dos gatos e os ramos das árvores. à medida que habituo os meus olhos à escuridão, olho fixamente para o chão. tapetes. velas. a disposição familiar das roupas e das malas. levanto a cabeça, para encontrar na parede caiada de branco, uma pintura.
Sorrio e deixo-me levar pelo sono.

lá fora

pessoas. uma rua enfeitada de gente, portas abertas e janelas entreabertas. enquanto o sol bate forte nas vidraças, ouço o gentil murmurar de vozes e passos. levanto-me e sorrateiramente, ainda meio bêbedo de sono, descortino uma procissão. um estranho silêncio na rua enquanto a imagem passa.

quarta-feira, janeiro 28, 2009

rotinas de uma subida

brumas. alamedas de árvores e vacas. no alcatrão marcas de travagens bruscas, um contínuo branco que não é respeitado. na subida final, pela nossa direita o muro de pedra, ele sim descontínuo, com marcas de terra e musgo. o portão de ferro preto, enferrujado a chiar como sempre o conheci. 
Olho o horizonte e uma vez mais perco-me na sua imensidão.

terça-feira, janeiro 27, 2009

Correio

um postal de memórias póstumas. Num céu cinza, nuvens de prata, ouço a chuva bater na janela de madeira carunchada. Lá fora nevoeiro denso. Os assobios melodiosos do vento acalmam-me. Tranporto-me para o sótão envolto num perfume conhecido. Mofo. Livros e camas antigas. Nas frestas do tecto e das paredes caiadas o vento torna a assobiar. Olho pela janela novamente. Vidros embaciados.